Integração pela normalidade

Yôga X normalidade
Acho curioso.

Na Índia o Yôga, nas suas múltiplas formas (sobretudo na de bhákti) faz parte da cultura tradicional. Tanto das elites como da cultura popular. È algo mais que normal. É algo banal. Até os excêntricos fazem parte do folclore tradicional! Até se vende yôga “pret à porter” para os turistas espirituais…

Já no ocidente o Yôga é procurado pela diferença.

Uma coisa utilitária…mas do oriente, meio mística, sabe-se lá se tem uns poderes. Talvez acalme e até cure! Uma espiritualidade que não é a tradicional, está renovada, é “new age”, é muito livre... Por aqui ainda é algo novo e diferente que é procurado por muita gente que quer experimentar novidades e talvez até quer mudar-se a si mesmos e sobretudo ao mundo. Ser algo mais. Estar fora do “sistema”, adoptar outros hábitos, outras vestes ou alimentação…Dizer coisas fantásticas e parecer transcendente. “Sentir”. Conseguir ter “visões” extraordinárias. E sobretudo poder mostar-se e até exibir essas supostas diferenças.

E muitos dos praticantes exibem isso muito claramente. Acham-se o máximo. Muito mais lúcidos ou puros e saudáveis, para dizer o mínimo. E alguns acham que têm poderes e sabem alguma coisa de especial. E para quem olha de fora friamente percebe claramente: entre exibicionismo e instabilidade…sobra pouco.

Cada vez mais vejo gente que nunca tendo ouvido falar de Yôga é muito mais Yôga que a maioria dos assumidos Yôgis que eu conheço. Incluindo eu!

Acho curioso constatar: praticar Yôga, no ocidente, é fazer algo diferente, logo desintegra! Mas cada vez menos, porque o “alternativo” está na moda, e a moda…integra!

A vida é um paradoxo.

Para mim o Yôga dá-me, cada vez mais, normalidade. Simples e absoluta. Dá-me realidade “nua e crua”. O “aqui e agora”. Sem escapes. Com o bom e o mau e toda a diversidade em evolução, mas sempre a mesma coisa. E é precisamente a integração pela normalidade que procuro cada vez mais!

Não será a normalidade uma forma de integração? Talvez a mais natural de todas? E agora que escrevo isto percebo: o querer ser diferente, mais e melhor que os outros, o egoísmo, é a coisa mais natural e normal do mundo! Enfim…se calhar o meu querer ser normal, é a minha forma de…ser diferente!

Sei que o meu tipo de Yôga não “encanta”muita gente precisamente por ser demasiado técnico e até “clean”. Para alguns falta um pouco de “magia”. Aquelas tangas espirituais, uma mirada distante que sugere estar a “ver” algo mais além, umas palavras confortáveis, supostas purificações quase divinas, rituais envolventes, algumas promessas gloriosas, um aspecto diferenciado do “sistema”. E sobretudo o “sentir”. O apelo ao “coração”, ao “sentir”, está muito em voga, como uma espécie de compensação por dois séculos onde se exaltava a superioridade da razão…

Ás vezes a vontade que tenho é de criar uma seita do mais charlatã possível (tipo: Antonianos do 8º dia da Luz de Rudra (que, obviamente, usam processos ióguicos!!!), só para gozar e extorquir essas pessoas. Mas (ainda) tenho alguma vergonha, que me impede de fazer o teatro com ar de convicção.

Entretanto é só isto que tenho para dar: filosofia; uma pratica. Se gostam e querem óptimo, senão que se lixe! (frequentemente encaminho gente para suposta concorrência)

2 comments:

Simão said...

Muito fixe o post.

2 coisas q retive: o facto de o Yoga ser uma ferramenta n para sermos diferentes mas para percebermos o que sempre fomos, a nossa "naturalidade". E a falta de convicção para o teatro. Realmente n importa o que façamos, o importante é fazê-lo com convicção, com carácter, o julgamento deixemos para os juízes... Afinal antes o nosso drama que viver o dos outros (mesmo q seja perfeito)

Abraço

PsiTra said...

o ppl ker sensações...a vida quase s resume a isso.