Reflexões de um jñana yôgin

Samádhi ou sensações?

O Yôga faz parte da vida. E os Yôgins que o praticam também. Assim, não se pode esperar que seja diferente de qualquer outra actividade humana. Nomeadamente não podemos esperar que esta seja uma área imune ás expectativas, tendências e condicionalismos típicos do género humano.

Aliás, o Yôga, com a sua antiguidade de mais de 5000 anos, milhões de Yôgins de todos os géneros pelo meio e muitas outros eventos por baixo, é um campo propício à procura e encontro de todo o tipo de coisas. Das coisas mais dispares e contraditórias! E principalmente das mais comuns.

Não admira portanto que o praticante de Yôga se obceque na procura de coisas tão típicas como místicas. Por exemplo: escapes ás exigências da vida, idealismos de todos os tipos (felicidade, paz ou liberdades absolutas, por exemplo), procura de sensações, visões e conhecimentos secretos e extraordinários, poderes especiais, etc.

Quando se fala de sámadhi a maioria espera tudo menos normalidade. Tudo menos a realidade “nua e crua”. A maioria espera e exige algo diferente, secreto, extraordinário, fantástico, que alivia… Algo muito profundo, muito “além”. Os imaginários mais típicos são compostos por visões, luzes, sons e tudo o que seja “esotérico” suficiente para ser difícil de explicar e partilhar. O valor da racionalidade não só é posto de lado como até se a diaboliza com veemência (principalmente no ocidente), e, por outro lado, o saber “interior” totalmente subjectivo e criativo, feito de imaginação, intuições e outros aspectos da consciência mais irracionais são enaltecidos com igual fervor. O que mais vale é o “sentir”. E se uma qualquer pílula é mais rápida e eficaz a proporcionar as sensações e visões que o praticante tanto deseja, então que se fod# a pratica! Qualquer xamanismo exótico à base de drogas que estimule a imaginação e as fantasias desejadas está muito mais “in”.

A mim parece-me que o pessoal, mais que filosofia, quer é escapes e festa.

E porque não? Por mim tudo bem…

Eu conheci e concebo o Yôga como filosofia. E por isso gostei tanto. Porque sempre gostei de filosofia. E esta filosofia é extraordinária por valorizar e estimular não somente a racionalidade, mas todos os aspectos da consciência: intuição, emoções, o corpo etc. E através das práticas que estimulam todos esses veículos da consciência ilumina-se mais facilmente a resposta à pergunta básica de todas as filosofias: quem sou eu? E ás outras que se desdobram: de onde venho? para onde vou? que faço aqui?

Yôga, meditação ou sámadhi é ter o (auto)conhecimento que responde a essas perguntas. E esse conhecimento pode ser adquirido e expressado de uma forma mais emocional, racional ou intuicional. Não importa se é sentir, pensar ou intuir. O que interessa é o conhecimento. E esse conhecimento não é necessariamente fantástico, ou sequer diferente. Muitas vezes até desilude!

Mas isso não entusiasma. Não seduz. Não vende!

Eu sempre tive tendência para o jñana yôga, que vivêncio dentro e através do Método DeRose. E talvez por isso não encontre as tais sensações fulgurantes. Porque nunca as procurei. O que procuro é o auto conhecimento. De mim mesmo e da realidade. E esse conhecimento quase sempre se revela através da simplicidade. E é simplificador. Revela o aqui e agora sem ter de o transformar em outra coisa. Antes o torna mais claro, óbvio e evidente. Mas ainda assim, é só e apenas o aqui e agora!

1 comment:

Sonia Ferreira said...

"E esse conhecimento não é necessariamente fantástico, ou sequer diferente. Muitas vezes até desilude!"

Ás vezes desilude mesmo... quando "se olha cá para dentro" shiiii... tenho tantas desilusões com aquilo que tomo consciência... a parte boa é que: mais vale ter desilusões dessas (e mudar) do que viver na ilusão!

Crescer doí às vezes! Às vezes a facada é tão grande que penso que não seria melhor esquecer, ignorar, deixar como está...