Os gurus em torné

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O racismo espiritual e os gurus em tornné para a colecta...

Hoje vieram colocar-me na escola mais uns belos panfletos de mais um guru vindo da Índia, que está de tornné, vem fazer a colecta.

Os panfletos são os melhores que jamais vi para um evento de “espiritualidade a la hindu”. O evento é de dia e meio e a participação custa apenas 30 euros. O evento é de dimensão nacional.

Em que consiste? Bem, vou dar a minha versão sintética e cínica: o guru vem vender
um Diksha, uma iniciação. Neste caso toma-nos por tontos a tal forma que nem sequer é um Diksha a nada em concreto, é apenas o Diksha em si, o próprio acto iniciatório, a nada. Consiste em que uma das pessoas autorizadas para tal coloque as mãos sobre a sua cabeça por cerca de um minuto!

Os efeitos? É simples. Como esta Diksha é nada os efeitos são todos absolutamente psicossomáticos, ou sejam, são aqueles que cada um dos participantes espera que sejam. Aquilo que cada um crê, anseia e desespera por obter. E o mais ridículo é que isto é assumido quase descaradamente no panfleto. Só que envolvido numa estéctica e discurso que mistura espiritualidade hindu, experimentos e explicações cientificas (que nunca ninguém vai confirmar ou pedir as fontes), histórias e pequenas frases new age, a falar de amor e felicidade e salvação, etc.,etc. Sugestão funciona, sabem-no bem os publicitários.

Eu fico pasmo. Se fosse um americano, brasileiro ou até um espanhol a vender o mesmo seria imediatamente considerado um charlatão líder de seita religiosa perigosa que anda a tentar roubar pessoas tontas, ignorantes e desesperadas. Principalmente se fosse cristão. Mas como é um indiano hindu moreno quase negro, então é outra coisa, tem outro charme, outra credibilidade. Se um ocidental diz que é iluminado é logo tachado de pretensioso pois todos consideram que isso é muito difícil, coisa para santos hindus, etc., mas se é indiano moreno hindu aceita-se sem problemas, mesmo que o individuo em questão seja do mesmo calibre que as bruxas da aldeia que até à pouco tempo faziam curas com exorcismos! Isto não é só nacionalismo, creio que isto é discriminação racica. É racismo! É racismo negativo, feito por ocidentais contra ocidentais. Racismo espiritual!

Mas lá está, não só é hindu, é moreno, ri-se muito, tem ananda no nome e ainda é um famoso líder de uma “Universidade da unidade” (assim mesmo, literal) que se apresenta sem querer interferir em religiões, pois supostamente isto está tudo para além das meras religiões. Então tudo bem, vamos. Aliás, publicitemos em escolas de yôga claro, tem tudo a ver, afinal isto também é yôga!

!!!???!!!

Não, isto não é Yôga. Quando muito seria religião, igualzinha à da maioria das seitas evangélicas cristãs que tão rapidamente condenamos. Mas na realidade creio que nem isso é. Trata-se pura e simplesmente de um evento, um espetáculo feito para conseguir dinheiro das pessoas através da sugestão. É circo mesmo.

As pessoas merecem.

O que se passa nestes encontros? O guru aparece, moreno quase negro, às vezes com longa barba branca, se já é velhito, sempre muito sorridente (afinal, tem de expressar a sua felicidade inefável e ainda contagiar os outros com ela). O guru dá o dárshana (deixa-se contemplar), no qual cada um o contempla e daí retira o que bem entende, e espera-se que daí retire algo abençoado. Afinal o guru, iluminado, é a encarnação do divino, é Deus. Entretanto o guru dá alguma conferencia cheia de frases feitas, sempre com alguma coisa de sânscrito (ou pelo menos hindi) pelo meio para parecer que fala de algo muito antigo e sagrado, muito profundo, e expressa-se mal em inglês (o que convém, porque não diz nada de jeito) e ainda tem de ser traduzido (para parecer mais inacessível e não ter de se esforçar a explicar bem minimamente nada), diz que o que ele quer dizer está para além do que as palavras permitem expressar. E ri-se. Ri-se muito. Pelo meio percebe-se que fala qualquer coisa espiritual que deixa claro que o dinheiro e a materialidade são a desgraça deste mundo, e que o melhor é desapegar-se disso tudo. Por falar nisso, esse guru tem sempre uma “obra social” em países de terceiro mundo onde o dinheiro e bens que alguém queira dar (para desapegar-se) pode ser bem empregue. E ri-se. É muito feliz. E os outros também o são, só por estar ao lado dele. E porque assim o querem e crêem desesperadamente. E assim riem-se todos, muito. Choram também, e com isso lavam a alma. E voltam a rir. Todos abençoados pelo guru, que aliás tem sempre o ánanda em alguma parte do seu nome, como não podia deixar de ser.

Entretanto fazem o Diksha, a iniciação espiritual. Em alguns casos inclui a transmição de um mantra secreto, supostamente individual, que é segredado ao ouvido do pagante. Servirá para se concentrarem e meditar através da meditaçao, uma meditaçao com algo de prece. Ou servirá simplesmente para ter algo mais que pagar... às vezes os iniciados recebem novos nomes, sânscritos, de santos, herois, animais misticos ou outro nome fom um significado fantástico qualquer.
Essa iniciação simboliza uma nova vida, um novo começo, uma nova esperança. Tudo o qu eera mau é deixado para trás, como magia. E por tudo e por nada aproveitam e dão abraços uns aos outros. E falam de amor, paz, harmonia e felicidade. E todos se abraçam, choram e sorriem um pouco mais. E todo são felizes. Alguns até têm “experiências místicas”, alguns até se “iluminam”. Outros sentem leveza, espiritual diz-se. A música em grupo (sob a forma de mantras) ajudam à hipnose geral. É a verdadeira psicoterapia de grupo. alternativa e espiritual diga-se. E também mais barata e eficaz que a psicologias e psiquiatrias que nem sempre garantem melhores resultados.

Entretanto, alguns resolvem livrar-se do fardo material doando o dinheiro, o carro e a casa à Obra. Alguns doam a própria vida, que passa a ser de renuncia e sacrifício. A maioria não. Mas uns quantos mais inscrevem-se em outros cursos mais longos, complexos e sobretudo maiscaros. Cursos que prometem ser mais intensos, mais concretos, revelar segredos, operar salvações. A maioria compra pelo menos algum dos Cd´s de musica cósmica, DVD´s de practicas holísticas e terapêuticas, livros sagrados, pedras místicas, incensos mágicos, rosários especiais, etc.

E assim se compreende que organizações espiritualistas, que são anti-materialistas e fazem o discurso do desapego ao dinheiro e bens corpóreos, possam fazer muitos milhares de folhetos e revistas de divulgação caríssimos para um simples evento onde as pessoas vão para que lhes ponham a mão na cabeça! Eventos supostamente gratuito ou semi gratuitos. Aliás, nem lhe chamam preço e sim contribuição. Aliás, a contribuição tem de pagar também as viagens e alojamento do guru (que costumam ficar em alojamentos luxuosos, porque sao muito sensiveis), a sua alimentação, roupa, arrendamento do espaço para o evento, etc. E paga também a “obra social” que o guru “apoia”...

Os gurus passam em tornné para colecta. Quem vai merece. Eu se fosse indiano hindu também me riria e seria muito feliz.

Se você quiser pagar-me para que lhe ponha as mãos na cabeça por um minuto eu também o posso fazer. Contacte. Ligue para 666semvergonha108, e pergunte por Abraçananda.

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