Yoga: o discurso contra si mesmo dos yogins.


Se temos simpatia por alguém fazemos todo o esforço do mundo para compreender, justificar, defender e apoiar essa pessoa mesmo que ela seja o mais perfeito exemplo do que criticamos.

Se temos antipatia por alguém, por mais parecido que a sua acção e discurso seja do nosso, encontramos sempre forma de a associar a tudo o que é negativo, e fazemos de tudo para parecer diferentes.

E por aí se vão forjando redes de simpatias e apoios, pequenas seitas, a maioria não assumidas, para lidar com a concorrência, a do seu semelhante, o “outro”, o Ser, aquela parte do Ser que por acaso até é a mais igual a nós em toda a Criação!

E fazemos o mesmo com esses “outro, fazemos também, e até sobretudo com o nosso “outro”, esse desconhecido, o “eu”. Gostamos muito de ser críticos, moralistas, , paternalistas etc, achamos que somos muito sábios, abertos, tolerantes, etc.. Mas mal alguém vira o foco para nós e demonstra que fazemos e dizemos (quase sempre) as mesmas coisas que criticamos (mudamos as palavras, os símbolos, o estilos) sentimos que somos vitimas incompreendidas.

Vendemos “auto-conhecimento” mas temos extremas dificuldades em olhar para nós mesmos. Para as nossas contradições, a nossa personalidade dual, cujo um dos lados não assumimos.
Invocamos tradições antigas para tentar esconder todas as novidades e remisturas que adoptamos e recriamos… Falamos em mudança enquanto nos esforçamos ao máximo para fincar pé nos hábitos enraizados e nas crenças cimentadas. Mudamos tudo o que seja necessário para não mudar realmente nada. Defendemo-nos até quanto ás mudanças inevitáveis, que não estão sob a nossa vontade. A mudança, óbviamente, é para os outros, que eu já sou sidhha. Quanto mais inseguros mais apologéticos tendemos a ser. Vendemos paz, felicidade e liberdade sem, nitidamente, a ter.
Quando queremso seduzir, e fazer um discurso bonito, falamos em Brahma, transcendência dos egos, em unidade. Quando nos apetece criticar e discriminar falamos em viveka. Há sempre uma escritura, um sutra, um ditado popular qualquer, a jeito para justificar todas as nossas pulsões, sobretudo emocionais. E se não há inventamso um sloka mais... De qualquer maneira acaba sempre numa auto-indulgencia qualquer.

Falamos de samadhi, sobre o que é, sobre como se pode ou não lá chegar...a minha tradição é mais tradição que a tua e tu só vais ficar mais tonificado ao passo que eu vou ser iluminado. Quer dizer, já sou, senão teria de confessar que não sei do que estou a falar e isto é tudo uma questão de fé...mas claro que nada disto tem nada a ver com religião!!!

Falamos de Purusha, Ishwara, Atman, Brahman. O ser. O real. O Uno. O criador. O todo. O absoluto. Deus. Deus deve ser grande mesmo, para se interessar, ou pelo menos aturar, tanta disputa em seu nome. Ou será que Deus gosta de nos ver assim, a lutar por Ele? Seria O Ser egoísta? Ou será que Purusha, e todas estas disputas em seus nomes, não são a mais pura treta? Realizar Brahman deve ser pura felicidade mesmo. Eu pelo menos acho isto tudo uma comédia de morrer a rir!

É tudo, claro, em nome da verdade, do esclarecimento, etc. É tudo uma questão de princípios certo? Errado! É quase tudo uma questão pessoal! Económica, afectiva… vaidades, lutas de mercado, lutas de poder, por reconhecimento, por atenção.

E claro que estou a falar, apenas e só, de mim mesmo. Sou um hipócrita. Vim só desabafar as minhas frustrações pessoais. No mundo do yoga que eu tenho visto nos últimos 10 anos, felizmente, é só "coerência"! ;)

No comments: